domingo, 12 de janeiro de 2014

10º dia – Amazonas...

O domingo amanhece chuvoso e frio (28 oC). Levanto as 7 h, vou tomar banho e vejo que estamos atracados em Óbidos, segundo informações de um passageiro. Saio do banho e já estamos começando a navegar novamente. Nem consegui ver a cidade. As pessoas estão mais quietas e acomodadas em suas redes. Algumas já se queixam de estarem entediadas. Outras, como o Sr. Fernando, que viaja acompanhado de sua esposa Lenir e sua filha Fernanda, curtem muito a viagem. Como ele já fez essa viagem outras vezes em tempos remotos, essa é uma oportunidade de reviver o passado. Elas aproveitam para dormir muito no camarote. Ele prefere viajar de rede.





Uma característica interessante do navio e a acessibilidade aos locais. Acessibilidade no sentido de permissão para entrar e sair com facilidade. Acessibilidade para idosos e pessoas com dificuldade de locomoção não existe. Embarcamos em um piso que é destinado a carga e os dois restaurantes. Por isso, para ter acesso ao primeiro piso em que ficam as redes é necessário subir uma escada estreita de 15 degraus. Do segundo para o terceiro piso, onde ficam os camarotes e o salão fechado com ar condicionado para as redes, são 12 degraus. Ontem em Santarém ajudei a descer um cadeirante e senti a dificuldade. Os degraus são curtos, altos e escorregadios.  Outros obstáculos são encontrados no caminho.

A acessibilidade a que me referia anteriormente diz respeito a possibilidade natural de entrar na cabine de comando e conversar com o comandante Natal. Ele gentilmente fala sobre o navio que foi construído em 1981 no Rio de Janeiro e pertencia a Funasa. Navega com dois motores Scania que consomem cerca de 80 litros de diesel por hora. A média de consumo do navio é de 20 mil litros de Belém a Manaus e 14 mil litros na volta.





Conheço D. Lourdes que está indo de Almeirim, onde mora, para Manaus fazer exames médicos. Ela diz que é de Breves (ilha de Marajó), mas que há muito não vai lá. Quando morava lá as ruas eram “calcadas” de serragem das madeireiras que exportavam madeira para o mundo todo. A cidade cresceu, mas a riqueza foi toda embora. Chega sua neta, Carla, com o filho, Caique. Carla tem 21 anos e três filhos, sendo que o mais velho tem 8 anos.



As crianças não tem o que fazer, mas inventam. Inclusive colecionar besouros e brincar com uma simples garrafa plástica. tomar chuveirada é o máximo...







A tarde vou para o piso superior do navio e fico conversando com uns camaradas. Nesse momento, chega Carlinhos Califórnia com seu  violão. Ele é natural de Belém, mas toca na noite de Manaus. Como já está acostumado, vai atendendo aos pedidos dos presentes, com um ótimo repertório de MPB o Pop Rock. Como eu disse que era mineiro, começa com Nossa Linda Juventude do 14 Bis. Canta por Milton Nascimento, Legião Urbana, Engenheiros do Havaí, Luis Gonzaga, Raul Seixas etc. Disse que se sente mais valorizado como musico em Manaus do que em Belém.





















Um paraense se sente incomodado com a sujeira do local e consegue um saco plástico e cata, com ajuda de algumas pessoas, as latas de bebidas e outras embalagens.  A conversa volta ao serviço prestado no navio, mas comenta-se o que todos observam: alguns funcionários, como a moca do faxina e a do bar, trabalham mais de 12 h por dia. Alguém diz que recebem salário mínimo. Será que o deputado dono da empresa sabe disso? 





Ao passar pela serra de Santa Julia, o piloto leva o navio para a outra margem do rio, atravessando a fronteira entre os estados. Agora estamos no Amazona...



Paramos em Parintins e descemos na esperança de vermos um pouco da tão famosa cultura do boi. É fim de tarde de domingo e tudo está fechado. Nos bares só há bebidas e nada para comer. Na frente de uma loja de artesanato encontramos alguns objetos dessa cultura.






Após o navio zarpar de Parintins, subo para o ultimo piso e encontro alguns amigos. Logo chega o Carlinhos Califórnia e a roda de violão recomeça. Com a ajuda de uma garrafa de whisky, há mais cantores. Nem todos no ritmo, mas animados. A brincadeira é divertida.







Um fato acontece que parece estranho a todos. Um funcionário do navio chega com um pequeno aparelho de som e coloca um funck na maior altura. Algumas pessoas vão falar com ele, mas não há resultado. Uma pessoa vai ao comandante que manda alguém, mas também com pouco efeito. É interessante essa cultura de achar que todo mundo tem que ouvir a mesma musica de qualidade questionável. Chama mais atenção o fato de ser um funcionário do próprio navio e de ele não atender às diferentes solicitações de abaixar o som.

É interessante como lidam com a rede. Ela não é só para dormir. Ela serve de sofá, de guarda roupa, de local de namoro e muito mais etc.


Bora dormir...

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